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O das Quinas

 

 

Os Deuses vendem quando dão.

Compra-se a glória com desgraça.

Ai dos felizes, porque são

Só o que passa!

 

Baste a quem basta o que lhe basta

O bastante de lhe bastar!

A vida é breve, a alma é vasta:

Ter é tardar.

 

Foi com desgraça e com vileza

Que Deus ao Cristo definiu:

Assim o opôs à Natureza

E Filho o ungiu.

 

Fernando Pessoa, in Mensagem

 

 

 

 

 

 

O das Quinas à sistematização

 

            O poeta faz uma série de afirmações paradoxais – “Os deuses vendem quando dão” -, ou baseadas em jogos de palavras – “Baste a quem basta o que  lhe basta” – com um único objetivo: mostrar que para se atingir a grandeza, para se conquistar a glória é indispensável estar disposto a sofrer – “Compra-se a glória com a desgraça”.

Qual será, pois, o destino do Homem, mais particularmente o do Homem português? O mesmo de Cristo: tal como Ele, os portugueses só ascenderão a um plano superior, transcendendo-se, superando as limitações da própria vida, por natureza efémera – “A vida é breve, a alma é vasta”.

Estão, então, traçadas as potencialidades da alma portuguesa, uma alma que se afirma “vasta”, grande – será esta grandeza de alma que presidirá todos os heróis de Mensagem.

Se se descodificar o titulo do poema, “as quinas” correspondem às cinco chagas de Cristo, símbolo do sofrimento e morte redentores da humanidade. Por conseguinte, as quinas são, desde logo, a expressão de que só o sacrifício conduz à redenção e à glória, projetando a missão de Portugal para um plano de espiritualidade.

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