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Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando.
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!

Fernando Pessoa, 08-12-1928


Análise contextual da primeira estrofe:

Normalmente a “auréola” tradicionalmente “cerca” os santos e os iluminados, e o seu tom dourado tem o significado hermético de“conhecimento”.
Já no poema, a auréola que cerca Nuno Álvares Pereira é, ao mesmo tempo, uma auréola de santidade (do guerreiro tornado monge) e uma
auréola de combate (“é a espada (…) volteando”). O poeta quer dizer que a santidade que ele alcançou, foi a custo também dos seus actos de
guerreiro, pois é a sua espada que desenha o círculo diáfano por cima da sua cabeça, destacando-o santo, do comum dos homens.
A imagem poética é muito bem conseguida. Vejamos como Pessoa nos faz imaginar o raio da espada que, levantada em círculo tão alto, rompe
o negro do céu em altitude (“o ar alto”), deixando
este de ser tão “negro e brando”.


Análise contextual da segunda estrofe:

Explicada a origem da auréola que cerca Nuno Álvares Pereira (a espada), Pessoa fala-nos sobre essa mesma espada. Diz-nos que a espada
“que, erguida / Faz esse halo no céu” não é uma espada qualquer, não é a espada de um comum cavaleiro, mas “é Excalibur, a ungida”, a espada do
“Rei Artur”.
No texto épico inglês, Le Morte d'Arthur, a espada Excalibur (palavra que significa “Corta Aço”) é a espada que legitima Artur como rei por direito
da Grã-Bretanha, quando ele a retira da pedra onde estava enterrada. Note-se que Pessoa dá a coroa ao Condestável, e depois dá-lhe a Excalibur,
como dizendo que ele era cavaleiro por dedicação mas rei por direito. Para a Mensagem também é importante que a espada tenha sido usada pelo
cavaleiro cuja a irmandade. O cavaleiro protegia o Santo Graal, um objecto desde sempre ligado aos Templários e que simboliza o derradeiro
conhecimento e união com Deus.

Análise contextual da terceira estrofe:

O poema dedicado ao Condestável termina com uma invocação da sua memória.
Fernando Pessoa resume novamente as qualidades mais relevantes do seu mito, ser “esperança consumada” e “S. Portugal em ser” para
depois lhe pedir que erga “a luz” da sua “espada” para “a estrada se ver”.
“Esperança consumada” porque o Condestável foi um homem de feitos corajosos, ou seja, consumou, concretizou a sua coragem em actos.
“S. Portugal em ser”, porque aliou, na sua pessoa, à coragem, a santidade. Pede-lhe Pessoa erga a luz da sua espada “para a estrada se ver”.
É claro que este pedido vem na mesma linha de outros, parecendo que Pessoa reúne um exército
imaterial, para servir de inspiração a uma revolta futura. Mas como é um exército imaterial, de memórias, mitos, a revolta terá de ser de consciências,
Mentalidades humanas.
“Nuno Álvares Pereira é o portador de uma espada que, sendo simultaneamente auréola, credencia-o como símbolo da plena heroicidade, por
incorporar a dupla condição de guerreiro e de santo” .


"Os Lusíadas", de L. de Camões: Canto VII , estâncias 28 a 31.


Atenta num que a fama tanto estende
Que de nenhum passo se contenta,
Que a pátria, que de um fraco fio pende,
Sobre os seus duros ombros a sustenta.
Não no vês, tinto de ira, que reprende,
A vil desconfiança, inerte e lenta,
Do povo, e faz que tome o doce freio
Do Rei seu natural, e não de alheio?

Olha: por seu conselho e ousadia,
De Deus guiada só e de santa estrela,
Só, pôde o que impossibil parecia:
Vencer o povo ingente de Castela.
Vês por indústria, esforço e valentia,
Outro estrago e vitória, clara e bela,
Na gente, assi feroz como infinita,
Que entre o Tarteso e o Guadiana habita? 


Mas não vês quase já desbaratado
O poder Lusitano, pela ausência
Do Capitão devoto, que, apartado,
Orando invoca a suma e trina Essência?
Vê-lo com pressa já dos seus achados,
Que lhe dizem que falta resistência
Contra poder tamanho, e que viesse
Por que consigo esforço aos fracos desse.

Mas olha com que santa confiança,
Que inda não era tempo, respondia,
Como quem tinha em Deus a segurança
Da vitória que logo lhe daria.
Assi Pompílio, ouvindo que a ponssança
Dos immigos a terra lhe corria,
A quem lhe a dura nova estava dando,
“Pois eu (respondo) estou sacrificando.” 


Análise contextual da primeira estrofe:

Poeta mostra-nos que o “guerreiro e santo” (Nuno Álvares Pereira), quer alcançar sempre mais e não se contenta com o destino, “atente num que a
fama tanto estende”, “que de nenhum passo se contenta”.
“Que a pátria, que de fraco fio pende”, “sobre seus duros ombros a sustenta”, neste dois versos remete-nos, para a ideia que Pessoa tenta transmitir,
como se encontrava a pátria Lusitana. Encontrava-se prestes a desabar, mas com a coragem e valentia do santo Cavaleiro tenta sustentar e manter a
pátria firme.
Depois o sujeito remete-nos para o estado psicológico de Nuno, quando diz “ Não no vês, tinto de ira, que reprende” e “A vil desconfiança, inerte e
lenta”. Ele está com raiva e repressivo, porque o povo não está seguro em relação ao seu reino. “Do povo, e faz que tome o doce freio” “Do Rei seu natural,
e não de alheio?”, pois revoltado, Nuno toma então o comando do exercito e vence os castelhanos, não deixando estes subirem ao torno de Portugal. 

Análise contextual da segunda estrofe:

“Olha: por seu conselho e ousadia, “De Deus guiada só e de santa estrela”, o sujeito mostra-nos a como a ajuda de Deus foi importante para ele
devido à sua devoção e pela religião.
“Só, pôde o que impossibil parecia”, aqui com essa ajuda que ele teve , e pela sua devoção conseguiu fazer o que parecia impossível de fazer: “vencer o povo ingente de Castela”, pois ele tenta vencer o grandioso povo de Castela que eram em maior numero, na Batalha de Aljubarrota. 
“Vês por indústria, esforço e valentia”, Nuno através da sua astúcia, força e valentia da a independência ao povo Lusitano e o “ Outro estrago e vitória,
clara e bela”, transmite-nos à ideia que o cavaleiro e o povo Lusitano conseguiram outros feitos grandiosos, uma outra vitória bela, a Batalha de Valverde, e
em que o estrago é a derrota dos castelhanos.
“Na gente, assi feroz como infinita” “Que entre o Tarteso e o Guadiana Habita?”, estes dois versos, mostra-nos que o povo que habita entre o
Guadiana e o Tarteso, em Espanha é tão valente como o Lusitano. 


Análise contextual da terceira estrofe:

“Mas não vês quase já desbaratado, O poder Lusitano…” o povo Lusitano encontrava-se quase arruinado, desalentado. Devido à “ausência de um
Capitão devoto”.
“Orando invoca a suma e trina Essência?”, ou seja, através da fé de Nuno, ele invoca os três símbolos da religião (pai do céu, filho e o espírito santo).
“Vê-lo com pressa já dos seus achados”, o povo vendo o seu comandante orando, enervado fica desmoralizado e “Que lhe dizem que falta resistência,” fala-se que Nuno estava a perder forças e resistência pela desigualdade, deixando enfraquecer e intimidar pela desigualdade que existia nesta luta, e tinha valente força, embora acabara de passar para o lado dos fracos (“Por que consigo esforço aos fracos desse.”).

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