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Claro em pensar, e claro no sentir, 
É claro no querer; 
Indeferente ao que há em conseguir 
Que seja só obter; 
Dúplice dono, sem me dividir, 
De dever e de ser - 

Não me podia a Sorte dar guarida 
Por não ser eu dos seus. 
Assim vivi, assim morri, a vida, 
Calmo sob mudos céus, 
Fiel à palavra dada e à ideia tida. 
Tudo mais é com Deus! 

O poema pode ser dividido em dois momentos. A primeira estrofe e os dois primeiros versos da segunda constituem uma aproximação à vida de D.Pedro. Através do advérbio de modo “assim”, o poeta introduz um novo momento no poema. Depois de uma breve caracterização da vida da figura histórica ”Assim vivi, assim morri, a vida,..”, os últimos três versos funcionam como uma conclusão.
Nos primeiros quatro versos da primeira estrofe do poema, D.Pedro apresenta-se como um intelectual, um homem de ideias esclarecidas e de objectivos definidos. Uma dessas ideias, era a vontade de não conquistar outro território apenas por conquistar. D.Pedro, num registo autobiográfico, apresenta-nos um objectivo que delineou e cumpriu; o de ser responsável por dois territórios (Portugal e Ceuta), e exercer os seus deveres de igual modo nos dois territórios (Dúplice dono, sem me dividir; de dever e de ser.v-5,6 est-1).
Na segunda estrofe do poema, D.Pedro afirma que Deus é responsável por tudo, mas não pelo destino dos homens, em concreto pelo dele. Segundo este, o seu destino foi protegido pelo seu trabalho e dedicação, e não pela sorte. Isto significa que o herói não acredita na sorte como elemento fundamental no seu destino (Não me podia a sorte dar guarida Por não ser eu dos seus.v-1,2 est-2).
Em suma, ele é o exemplo da fidelidade ao pensamento, ao sentimento e à vontade(vv.1,2)
Nota:
D.Pedro, considerado o primeiro grande diplomata português, era um dos filhos de D.João I, Mestre de Avis, e de D.ª Filipa de Lencastre. Nasceu em 1392 e morreu em 1449, depois de ter sido regente de Portugal entre 1439 e 1448.

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