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D. João, Infante de Portugal

 

Não fui alguém. Minha alma estava estreita

Entre tão grandes almas minhas pares,

Inutilmente eleita,

Virgemmente parada;

 

Porque é do português, pai de amplos mares,

Querer, poder só isto:

O inteiro mar, ou a orla vã desfeita - 

O todo, ou o seu nada.

 

 

D. João, para além do seu título de Infante, era também Condestável - 2ª figura militar mais importante no reino a seguir ao rei. Contudo, nunca chegou a ser rei, nem mesmo regente como o seu irmão D. Pedro, ou seja, não foi alguém a quem pudessem ser confiadas certas responsabilidades, pois estava rodeado de pessoas (a sua família) que podiam detê-las com melhores resultados. Apesar de saber ter em si as capacidades necessárias para trazer mudanças positivas à pátria, não conseguia aplicar esta potencialidade, outros mais capazes já o faziam por ele, pelo que se sentia inútil e inferior.

Assim, o seu destino parecia toldar-se perante o caminho destas grandes figuras históricas. Enquanto estas conquistaram "o inteiro mar", "o todo", a ele sobrou apenas "a orla vã desfeita", "o seu nada". D. João sofria,  então, devido ao facto de pensar que o seu destino de grandezas nunca seria cumprido. Porém, ele apenas olhava para os dois extremos, sem colocar a hipótese de talvez o seu destino ser algo que, apesar de não ser tudo o que ele ambicionava, também não ser insignificante. Talvez o seu destino fosse tão importante como o dos seus irmãos, pois enquanto o destes era a conquista e a glória imortal, o dele era deixar transparecer o rumo grandioso dos seus pares. 

Um povo é construído por homens que se destacam e por homens que se anulam para que outros possam brilhar - e todos têm o seu lugar no mundo.

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